quarta-feira, 13 de março de 2024

A cantiga é uma arma - tertúlia

Canções Heróicas – 1946
Fernando Lopes-Graça


Acordai,
Homens que dormis
A embalar a dor
dos silêncios vis!
Vinde, no clamor
Das almas viris,
Arrancar a flor
Que dorme na raiz!

Acordai,
Raios e tufões
Que dormis no ar
E nas multidões!
Vinde incendiar
De astros e canções
As pedras e o mar,
O mundo e os corações!

Acordai!
Acendei,
De almas e de sóis
Este mar sem cais,
Nem luz de faróis!

E acordai, depois
Das lutas finais,
Os nossos heróis
Que dormem nos covais
Acordai!

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Abandono – 1962
Amália Rodrigues


Por teu livre pensamento
Foram-te longe encerrar
Por teu livre pensamento
Foram-te longe encerrar
Tão longe que o meu lamento
Não te consegue alcançar
E apenas ouves o vento
E apenas ouves o mar
Levaram-te ao meio da noite
A treva tudo cobria
Levaram-te ao meio da noite
A treva tudo cobria
Foi de noite, numa noite
De todas a mais sombria
Foi de noite, foi de noite
E nunca mais se fez dia
Ai, dessa noite o veneno
Persiste em me envenenar
Ai, dessa noite o veneno
Persiste em me envenenar
Oiço apenas o silêncio
Que ficou em teu lugar
Ao menos ouves o vento
Ao menos ouves o mar
Ao menos ouves o vento
Ao menos ouves o mar

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Trova do Vento que Passa – 1963
Adriano Correia de Oliveira


Pergunto ao vento que passa
Notícias do meu país
E o vento cala a desgraça
O vento nada me diz.
O vento nada me diz.


Pergunto aos rios que levam
Tanto sonho à flor das águas
E os rios não me sossegam
Levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
Ai rios do meu país
Minha pátria à flor das águas
Para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
Pede notícias e diz
Ao trevo de quatro folhas
Que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
Por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
Quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
Direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
Vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
Ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
Nos braços em cruz do povo.


Vi minha pátria na margem
Dos rios que vão pró mar
Como quem ama a viagem
Mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(Minha pátria à flor das águas)
Vi minha pátria florir
(Verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
E fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
Nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
Só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à Beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
Se notícias vou pedindo
Nas mãos vazias do povo
Vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
Dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
E o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo
Liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
Aqueles pra quem eu escrevo.

Mas há sempre uma candeia
Dentro da própria desgraça
Há sempre alguém que semeia
Canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
Em tempo de servidão
Há sempre alguém que resiste
Há sempre alguém que diz não.

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Erguem-se muros – 1964
Adriano Correia de Oliveira


Erguem-se muros em volta
do corpo quando nos damos
amor semeia a revolta
que nesse instante calamos
Semeia a revolta e o dia
cobrir-se-á de navios (bis)
há que fazer-nos ao mar
antes que sequem os rios
Secos os rios a noite
tem os caminhos fechados (bis)
Há que fazer-nos ao mar
ou ficaremos cercados
Amor semeia a revolta
antes que sequem os rios...

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É preciso avisar toda a gente - 1967
Luís Cilia


É preciso avisar toda a gente
Dar notícia, informar, prevenir
Que por cada flor estrangulada
Há milhões de sementes a florir.

É preciso avisar toda a gente
segredar a palavra e a senha
Engrossando a verdade corrente
duma força que nada  a detenha.

É preciso avisar toda a gente
Que há fogo no meio da floresta
E que os mortos apontam em frente
O caminho da esperança que resta.

É preciso avisar toda a gente
Transmitindo este morse de dores
É preciso, imperioso e urgente
Mais flores, mais flores, mais flores.

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Canção do Soldado – 1967
Adriano Correia de Oliveira


Sete balas só na mão
Já começa amanhecer.
Sete flores de limão
Pra lutar até vencer.
Sete flores de limão
Pra lutar até morrer.

Já estremece a tirania
Já o sol amanheceu.
Mil olhos tem o dragão
Há chamas d'oiro no céu.
Mil olhos tem o dragão
Há chamas d'oiro no céu.

Abre no peito o luar
Companheiros acercai-vos.
Arde em nós a luz do dia
Companheiros revezai-vos.
Arde em nós a luz do dia
Companheiros revezai-vos.

Já o rouxinol cantou
Tomai o nosso estandarte.
No seu sangue misturado
Já não há desigualdade.
No seu sangue misturado
Já não há desigualdade.

Sete balas só na mão
Já começa a amanhecer.
Sete flores de limão
Para lutar até vencer.

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Canção com lágrimas – 1967
Adriano Correia de Oliveira


Eu canto para ti um mês de giestas
Um mês de morte e crescimento ó meu amigo
Como um cristal partindo-se plangente
No fundo da memória perturbada

Eu canto para ti um mês onde começa a mágoa
E um coração poisado sobre a tua ausência
Eu canto um mês com lágrimas e sol o grave mês
Em que os mortos amados batem à porta do poema

Porque tu me disseste quem me dera em Lisboa
Quem me dera em Maio depois morreste
Com Lisboa tão longe ó meu irmão tão breve
Que nunca mais acenderás no meu o teu cigarro

Eu canto para ti Lisboa à tua espera
Teu nome escrito com ternura sobre as águas
E o teu retrato em cada rua onde não passas
Trazendo no sorriso a flor do mês de Maio

Porque tu me disseste quem me dera em Maio
Porque te vi morrer eu canto para ti
Lisboa e o sol Lisboa com lágrimas
Lisboa a tua espera ó meu irmão tão breve
Eu canto para ti Lisboa à tua espera

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Ronda do soldadinho – 1969
José Mário Branco


Um e dois e três
Era uma vez
Um soldadinho
De chumbo não era
Como era
O soldadinho
Um menino lindo
Que nasceu
Num roseiral
O menino lindo
Não nasceu
P'ra fazer mal
Menino cresceu
Já foi à escola
De sacola
Um e dois e três
Já sabe ler
Sabe contar
Menino cresceu
Já aprendeu
A trabalhar
Vai gado guardar
Já vai lavrar
E semear
Um e dois e três
Era uma vez
Um soldadinho
De chumbo não era
Como era
O soldadinho
Menino cresceu
Mas não colheu
De semear
Os senhores da terra
O mandam p'rà guerra
Morrer ou matar
Os senhores da guerra
Não matam
Mandam matar
Os senhores da guerra
Não morrem
Mandam morrer
A guerra é p'ra quem
Nunca aprendeu
A semear
É p'ra quem só quer
Mandar matar
Para roubar
Um e dois e três
Era uma vez
Um soldadinho
De chumbo não era
Como era
O soldadinho
Dancemos meninos
A roda
No roseiral
Que os meninos lindos
Não nascem
P'ra fazer mal
Soldadinho lindo
Era o rei
Da nossa terra
Fugiu para França
P'ra não ir
Morrer na guerra
Soldadinho lindo
Era o rei
Da nossa terra
Fugiu para França
P'ra não ir
Matar na guerra

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Cantar de emigração – 1970
Adriano Correia de Oliveira

Este parte, aquele parte
e todos, todos se vão
Galiza ficas sem homens
que possam cortar teu pão

Tens em troca
órfãos e órfãs
tens campos de solidão
tens mães que não têm filhos
filhos que não têm pai

Coração
que tens e sofre
longas ausências mortais
viúvas de vivos mortos
que ninguém consolará

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Maré Alta – 1971
Sérgio Godinho


Aprende a nadar, companheiro
Aprende a nadar, companheiro
Que a maré se vai levantar
Que a maré se vai levantar

Que a liberdade está a passar por aqui
Que a liberdade está a passar por aqui
Que a liberdade está a passar por aqui
Maré alta
Maré alta
Maré alta

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A cantiga é uma arma – 1973
José Mário Branco


A cantiga é uma arma
Eu não sabia
Tudo depende da bala
E da pontaria
Tudo depende da raiva
E da alegria
A cantiga é uma arma
De pontaria
Há quem canta por interesse
Há quem cante por cantar
Há quem faça profissão
De combater a cantar
E há quem cante de pantufas
Para não perder o lugar
A cantiga é uma arma
Eu não sabia
Tudo depende da bala
E da pontaria
Tudo depende da raiva
E da alegria
A cantiga é uma arma
De pontaria
A cantiga é uma arma
Eu não sabia
Tudo depende da bala
E da pontaria
Tudo depende da raiva
E da alegria
A cantiga é uma arma
De pontaria
O faduncho choradinho
De tabernas e salões
Semeia só desalento
Misticismo e ilusões
Canto mole em letra dura
Nunca fez revoluções
A cantiga é uma arma
(Contra quem?)
Contra a burguesia
Tudo depende da bala
E da pontaria
Tudo depende da raiva
E da alegria
A cantiga é uma arma
De pontaria
Se tu cantas a reboque
Não vale a pena cantar
Se vais à frente demais
Bem te podes engasgar
A cantiga só é arma
Quando a luta acompanhar
A cantiga é uma arma
Contra a burguesia
Tudo depende da bala
E da pontaria
Tudo depende da raiva
E da alegria
A cantiga é uma arma
De pontaria
Uma arma eficiente
Fabricada com cuidado
Deve ter um mecanismo
Bem perfeito e oleado
E o canto com uma arma
Deve ser bem fabricado
A cantiga é uma arma
(Contra quem camaradas?)
Contra a burguesia
Tudo depende da bala
E da pontaria
Tudo depende da raiva
E da alegria
A cantiga é uma arma
De pontaria
A cantiga é uma arma
Contra a burguesia
Tudo depende da bala
E da pontaria
Tudo depende da raiva
E da alegria
A cantiga é uma arma
Contra a burguesia

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Vamos brincar à caridadezinha - 1973
José Barata Moura


Vamos brincar à caridadezinha
Festa, canasta e boa comidinha
Vamos brincar à caridadezinha

A senhora de não sei quem
Que é de todos e de mais alguém
Quando à tarde descansada, mastigando uma torrada
com muita pena do pobre
Coitada

Neste mundo distinto e são
Cataloga-se até o coração
Paga botas e merendas
Rouba muito mas dá prendas
E ao peito terá uma comenda

O pobre, no seu penar
Habitua-se a rastejar
E do campo ou na cidade
Faz da sua infelicidade
Alvo para os desportistas
da caridade

E nós que queremos ser irmãos
Mas nunca sujamos as mãos
É uma vida decente
Num passeio uma aguardente
O que é justo
E há que dar a essa gente

Não vamos brincar à caridadezinha
Festa, canasta e falsa intençãozinha
Não vamos brincar à caridadezinha

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Cravo vermelho ao peito - 1974
José Barata Moura


Cravo Vermelho ao peito
A  muitos fica bem
Cravo  Vermelho ao peito
A muitos fica bem
Sobretudo faz jeito
A  certos filhos da Mãe
Sobretudo  faz jeito
A certos filhos da Mãe

Não  importa quem eles eram
Não importa quem eles são
Nem todo o mal que fizeram
Mas sempre a bem da Nação
Nem  todo o mal que fizeram
Mas sempre a bem da Nação

Cravo Vermelho ao peito
A muitos fica bem
Cravo Vermelho ao peito
A muitos fica bem
Sobretudo faz jeito
A certos filhos da Mãe
Sobretudo faz jeito
A certos filhos da Mãe

E chegado o dia novo
Chegada a bendita hora
Vestiram uma pele de povo
Ficou-lhes o rabo de fora
Vestiram uma pele de povo
Ficou-lhes o rabo de fora

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O povo unido jamais será vencido - 1974
Luís Cilia -  Quilapayun


De pé, cantar, que vamos triunfar
Avançam já bandeiras de unidade
Já vão crescendo brados de vitória
E tu verás teu canto e bandeira, florescer
A luz de um rubro amanhecer,
Milhões de braços fazendo a nova história.
 
De pé, marchar, que o povo vai triunfar
Agora já ninguém nos vencerá
Nada pode quebrar nossa vontade
E num clamor mil vozes de combate nascerão
Dirão, canção de liberdade;
Será melhor a vida que virá.
 
E agora, o povo ergue-se e luta
Com voz de gigante, gritando avante
 
O povo unido jamais será vencido
 
O povo está forjando a unidade
De norte a sul, na mina e no trigal
Somos do campo, da aldeia e da cidade
Lutamos unidos pelo nosso ideal, sulcando
Rios de luz, paz e fraternidade
Aurora rubra serás realidade
 
De pé, cantar, que o povo vai triunfar
Milhões de punhos impõem a verdade
De aço são, ardente batalhão
E as suas mãos levando a justiça e a razão
Mulher, com fogo e com valor
Estás aqui junto ao trabalhador.
 
E agora, o povo ergue-se e luta
Com voz de gigante, gritando avante
 
O povo unido jamais será vencido

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A liberdade - 1974
Sérgio Godinho

A paz, o pão, habitação
Saúde e educação
A paz, o pão, habitação
Saúde e educação

Viemos com o peso do passado e da semente
Esperar tantos anos, torna tudo mais urgente
E a sede de uma espera só se estanca na torrente
E a sede de uma espera só se estanca na torrente
Vivemos tantos anos a falar pela calada
Só se pode querer tudo quando não se teve nada
Só quer a vida cheia quem teve a vida parada
Só quer a vida cheia quem teve a vida parada
Ai
Só há liberdade a sério
Quando houver
A paz, o pão, habitação
Saúde, educação
Só há liberdade a sério quando houver
Liberdade de mudar e decidir
Quando pertencer ao povo o que o povo produzir
E quando pertencer ao povo o que o povo produzir

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Alerta – 1975
José Mário Branco


Alerta! Alerta!
Às armas! Às armas!
Alerta!

Pelo pão e pela paz, e pela nossa terra
Pela independência e pela liberdade

Alerta! Alerta!
Às armas, Às armas
Alerta!

Pelo pão que lhes rouba a burguesia
Que os explora nos campos e nas fábricas
Operários, camponeses hão de um dia
Arrebatar o poder à burguesia
Abaixo a exploração, pelo pão de cada dia
Pois, claro!

Só teremos a paz definitiva
Quando acabar a exploração capitalista
Camarada, soldado e marinheiro
Lutemos juntos pela paz no mundo inteiro
Soldados ao lado do povo
Pela paz num mundo novo
Pois, claro!

Pela terra que lhes rouba essa canalha
Dos monopólios e grandes proprietários
Camponeses lutam pela reforma agrária
Para dar a terra aqueles que a trabalham
Reforma agrária faremos!
À terra a quem a trabalha
Pois, claro!

Pela independência nacional
Contra o domínio das grandes potências
Fora o imperialismo internacional
Que tem nas mãos metade de Portugal
Abaixo o imperialismo!
Independência nacional
Pois, claro!

Não há povo que tenha liberdade
Enquanto houver na sua terra exploração
Liberdade não se dá, só se conquista
Não há reforma burguesa que resista
Democracia popular e ditadura ploretária
Pois, claro!

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Companheiro Vasco – 1975
Carlos Alberto Moniz, Maria do Amparo


Força, força companheiro Vasco
Nós seremos a muralha de aço
Força, força companheiro Vasco
Nós seremos a muralha de aço

Há quem queira fazer marcha atrás
Há quem queira meter o travão
Mas o povo acelera e faz
Do dia a dia
O caminho da revolução

Mas o povo acelera e faz
Do dia a dia
O caminho da revolução

Força, força companheiro Vasco
Nós seremos a muralha de aço
Força, força companheiro Vasco
Nós seremos a muralha de aço

Há quem queira mandar para os quartéis
Os soldados, nosso povo armado
Mas a casa dos amigos certos

É na rua
Na rua e do nosso lado
Força, força companheiro Vasco
Nós seremos a muralha de aço
Força, força companheiro Vasco
Nós seremos a muralha de aço

Há quem queira deixar esta terra
Ao alcance dos monopolistas
Mas o povo não desarma e diz
Estamos fartos
Não queremos os capitalistas

Mas o povo não desarma e diz
Estamos fartos
Não queremos os capitalistas

Força, força companheiro Vasco
Nós seremos a muralha de aço
Força, força companheiro Vasco
Nós seremos a muralha de aço
Há quem queira deixar como está
O poder dos latifundiários
Mas o povo não alinha mais
Nunca mais
Com a preguiça dos senhores agrários
Mas o povo não alinha mais
Nunca mais
Com a preguiça dos senhores agrários

Força, força companheiro Vasco
Nós seremos a muralha de aço
Força, força companheiro Vasco
Nós seremos a muralha de aço

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Tanto Mar - 1975
Chico Buarque


Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente
Um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Em algum canto de jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim
Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim

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Somos livres - 1975
Ermelinda Duarte

Ontem apenas
Fomos a voz sufocada
Dum povo a dizer: "Não quero"
Fomos os bobos do rei
Mastigando desespero
Ontem apenas
Fomos um povo a chorar
Na sarjeta dos que, à força
Ultrajaram e venderam
Esta terra hoje nossa
(Esta terra hoje nossa)
Uma gaivota voava, voava
Asas de vento, coração de mar
Uma gaivota voava, voava
Asas de vento, coração de mar
Como ela, somos livres
Somos livres de voar
Como ela, somos livres
Somos livres de voar
Uma papoila crescia, crescia
Grito vermelho, num campo qualquer
Uma papoila crescia, crescia
Grito vermelho, num campo qualquer
Como ela, somos livres
Somos livres de crescer
Como ela, somos livres
Somos livres de crescer
Uma criança dizia, dizia
Quando for grande, não vou combater
Uma criança dizia, dizia
Quando for grande, não vou combater
Como ela, somos livres
Somos livres de dizer
Como ela, somos livres
Somos livres de dizer
Somos um povo que cerra fileiras
Parte à conquista do pão e da paz
Somos um povo que cerra fileiras
Parte à conquista do pão e da paz
Somos livres, somos livres
Não voltaremos atrás
Somos livres, somos livres
Não voltaremos atrás
Somos livres, somos livres
Não voltaremos atrás
Somos livres, somos livres
Não voltaremos atrás
Somos livres, somos livres
Não voltaremos atrás

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Fado de Alcoentre - 1975
Fernando Tordo Ary dos Santos

Que se passa? Então isto não é uma ameaça?
Ali andou mãozinha de reaça. Deixaram fugir mais oitenta e nove…
Que se passa? Então isto não é uma ameaça?
Ali andou mãozinha de reaça. Deixaram fugir mais oitenta e nove…

Os pides desceram pela corda alegremente.
Os guardas andavam passeando em Alcoentre.
E a esquerda levou com mais um corno pela frente.
Esta maldade não se faz à gente.
Que merda!

As grades foram todas serradas a preceito.
A fuga aproveitou-se do que era imperfeito.
E a esquerda, por causa da vergonha deste feito,
pode apanhar uma bala no peito…
Que merda!

Quem foram os que de fora das grades ajudaram?
Quem foram os que dentro das grades os armaram?
A esquerda não esquece tubarões que a torturaram.
Não pode perdoar se a enganaram.
Que merda!

Agora, a vigilância é tudo o que nos resta.
Pr’ós pides, a vida na prisão… era uma festa.
E a esquerda tem mais do que razão quando protesta,
pois pode apanhar um tiro na testa…
Que merda!

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Teresa Torga - 1976
José Afonso

No centro da Avenida
No cruzamento da rua
Às quatro em ponto perdida
Dançava uma mulher nua

A gente que via a cena
Correu para junto dela
No intuito de vesti-la
Mas surge António Capela

Que aproveitando a barbuda
Só pensa em fotografá-la
Mulher na democracia
Não é biombo de sala

Dizem que se chama Teresa
Seu nome é Teresa Torga
Muda o pick-up em Benfica
Atura a malta da borga

Aluga quartos de casa
Mas já foi primeira estrela
Agora é modelo à força
Que o diga António Capela

T'resa Torga T'resa Torga
Vencida numa fornalha
Não há bandeira sem luta
Não há luta sem batalha

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José Mário Branco - 1979
FMI


Cachucho não é coisa que me traga a mim
Mais novidade do que lagostim
Nariz que reconhece o cheiro do pilim
Distingue bem o Mortimore do Meirim
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Há tanto nesta terra que ainda está por fazer
Entrar por aí a dentro, analisar, e então
Do meu 'attaché-case' sai a solução!
FMI Não há graça que não faça o FMI
FMI O bombástico de plástico para si
FMI Não há força que retorça o FMI
Discreto e ordenado mas nem por isso fraco
Eis a imagem 'on the rocks' do cancro do tabaco
Enfio uma gravata em cada fato-macaco
E meto o pessoal todo no mesmo saco
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Não ando aqui a brincar, não há tempo a perder
Batendo o pé na casa, espanador na mão
É só desinfectar em superprodução!
FMI Não há truque que não lucre ao FMI
FMI O heróico paranóico hara-kiri
FMI Panegírico, pro-lírico daqui
Palavras, palavras, palavras e não só
Palavras para si e palavras para dó
A contas com o nada que swingar o sol-e-dó
Depois a criadagem lava o pé e limpa o pó
A produtividade, ora nem mais, célulazinhas cinzentas
Sempre atentas
E levas pela tromba se não te pões a pau
Num encontrão imediato do 3º grau
FMI Não há lenha que detenha o FMI
FMI Não há ronha que envergonhe o FMI
FMI
Entretém-te filho, entretém-te
Não desfolhes em vão este malmequer que bem-te-quer
Mal-te-quer, vem-te-quer, ovomalt'e-quer
Messe gigantesca, vem-te vindo, VIM na cozinha, VIM na casa-de-banho
VIM no Politeama, VIM no Águia D'ouro, VIM em toda a parte, vem-te filho
Vem-te comer ao olho, vem-te comer à mão
Olha os pombinhos pneumáticos que te arrulham por esses cartazes fora
Olha a Música no Coração da Indira Gandi
Olha o Moshe Dayan que te traz debaixo d'olho
O respeitinho é muito lindo e nós somos um povo de respeito, né filho?
Nós somos um povo de respeitinho muito lindo
Saímos à rua de cravo na mão sem dar conta de que saímos à rua de cravo na mão a horas certas, né filho?
Consolida filho, consolida, enfia-te a horas certas no casarão da Gabriela que o malmequer vai-te tratando do serviço nacional de saúde
Consolida filho, consolida, que o trabalhinho é muito lindo
O teu trabalhinho é muito lindo, é o mais lindo de todos
Como o Astro, não é filho?
O cabrão do Astro entra-te pela porta das traseiras, tu tens um gozo do caraças, vais dormir entretido, não é?
Pois claro, ganhar forças, ganhar forças para consolidar
Para ver se a gente consegue num grande esforço nacional estabilizar esta destabilização filha-da-puta, não é filho?
Pois claro!
Estás aí a olhar para mim
Estás a ver-me dar 33 voltinhas por minuto
Pagaste o teu bilhete, pagaste o teu imposto de transação e estás a pensar lá com os teus zodíacos:
Este tipo está-me a gozar, este gajo quem é que julga que é?
Né filho? Pois não é verdade que tu és um herói desde de nascente?
A ti não é qualquer totobola que te enfia o barrete, meu grande safadote!
Meu Fernão Mendes Pinto de merda, né filho?
Onde está o teu Extremo Oriente, filho?
A-ni-ki-bé-bé, a-ni-ki-bó-bó
Tu és Sepúlveda, tu és Adamastor, pois claro
Tu sozinho consegues enrabar as Nações Unidas com passaporte de coelho, não é filho?
Mal eles sabem, pois é, tu sabes o que é gozar a vida!
Entretém-te filho, entretém-te!
Deixa-te de políticas que a tua política é o trabalho, trabalhinho, porreirinho da Silva,
E salve-se quem puder que a vida é curta e os santos não ajudam quem anda para aqui a encher pneus com este paleio de Sanzala em ritmo de pop-chula, não é filho?
A one, a two, a one two three
FMI dida didadi dadi dadi da didi
FMI
Come on you son of a bitch!
Come on baby a ver se me comes!
'Camóne' Luís Vaz, amanda-lhe com os decassílabos que eles já vão saber o que é meterem-se com uma nação de poetas!
E zás, enfio-te o Manuel Alegre no Mário Soares
Zás, enfio-te o Ary dos Santos no Álvaro de Cunhal
Zás, enfio-te a Natalia Correia no Sá Carneiro
Zás, enfio-te o Zé Fanha no Acácio Barreiros
Zás, enfio-te o Pedro Homem de Melo no Parque Mayer
E acabamos todos numa sardinhada ao integralismo Lusitano
A estender o braço
Meio Rolão Preto, meio Steve McQueen
Ok boss, tudo ok
Estamos numa porreira meu
Um tripe fenomenal
Proibido voltar atrás
Viva a liberdade, né filho?
Pois, o irreversível, pois claro, o irreversívelzinho
Pluralismo a dar com um pau, nada será como dantes
Agora todos se chateiam de outra maneira, né filho?
Ora que porra, deixa lá correr o marfil, homem, andas numa alta, pá, é assim mesmo
Cada um a curtir a sua, podia ser tão porreiro, não é?
Preocupações, crises políticas pá?
A culpa é dos partidos pá!
Esta merda dos partidos é que divide a malta pá
Pois pá, é só paleio pá
O pessoal na quer é trabalhar pá!
Razão tem o Jaime Neves pá!
Olha deixaste cair as chaves do carro!
Pois pá!
Que é essa orelha de preto que tens no porta-chaves?
É pá, deixa-te disso, não destabilizes pá!
Eh, faz favor, mais uma bica e um pastel de nata
Uma porra pá, um autentico desastre o 25 de Abril
Esta confusão pá, a malta estava sossegadinha
A bica a 15 tostões, a gasosa a sete e coroa
Tá bem, essa merda da pide pá, Tarrafais e o carágo
Mas no fim de contas quem é que não colaborava, ah?
Quantos bufos é que não havia nesta merda deste país, ah?
Quem é que não se calava, quem é que arriscava coiro e cabelo, assim mesmo, o que se chama arriscar, ah?
Meia dúzia de líricos, pá, meia dúzia de líricos que acabavam todos a fugir para o estrangeiro, pá
Isto é tudo a mesma carneirada!
Oh sr. guarda venha cá, á
Venha ver o que isto é, é
O barulho que vai aqui, i
O neto a bater na avó, ó
Deu-lhe um pontapé no cu, né filho?
Tu vais conversando, conversando
Que ao menos agora pode-se falar
Ou já não se pode?
Ou já começaste a fazer a tua revisãozinha constitucional tamanho familiar, ah?
Estás desiludido com as promessas de Abril, né?
As conquistas de Abril!
Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho, né filho?
E tu fizeste como o avestruz
Enfiaste a cabeça na areia
Não é nada comigo, não é nada comigo, né?
E os da frente que se lixem
E é por isso que a tua solução é não ver
é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada
Precisas de paz de consciência
Não andas aqui a brincar, né filho?
Precisas de ter razão
Precisas de atirar as culpas para cima de alguém
E atiras as culpas para os da frente
Para os do 25 de Abril
Para os do 28 de Setembro
Para os do 11 de Março
Para os do 25 de Novembro
Para os do... que dia é hoje, ah?
FMI Dida didadi dadi dadi da didi
FMI
Não há português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho?
Todos temos culpas no cartório
Foi isso que te ensinaram
Não é verdade?
Esta merda não anda
Porque a malta, pá
A malta não quer que esta merda ande
Tenho dito
A culpa é de todos
A culpa não é de ninguém
Não é isto verdade?
Quer-se dizer
Há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular! Somos todos muita bons no fundo, né?
Somos todos uma nação de pecadores e de vendidos, né?
Somos todos, ou anti-comunistas ou anti-faxistas
Estas coisas até já nem querem dizer nada
Ismos para aqui
Ismos para acolá
As palavras é só bolinhas de sabão
Parole parole parole e o Zé é que se lixa
Cá o pintas é sempre o mexilhão
Eu quero lá saber deste paleio vou mas é ao futebol
Pronto
Viva o Porto, viva o Benfica! Lourosa! Lourosa! Marrazes! Marrazes!
Fora o arbitro, gatuno! Qual gatuno, qual caralho!
Razão tinha o Tonico de Bastos para se entreter, né filho?
Entretém-te filho, com as tuas viúvas e as tuas órfãs
Que o teu delegado sindical vai tratando da saúde aos administradores
Entretém-te, que o ministro do trabalho trata da saúde aos delegados sindicais
Entretém-te filho, que a oposição parlamentar trata da saúde ao ministro do trabalho
Entretém-te, que o Eanes trata da saúde à oposição parlamentar
Entretém-te, que o FMI trata da saúde ao Eanes
Entretém-te filho e vai para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante
Enquanto tu adormeces a não pensar em nada
Milhares e milhares de tipos inteligentes e poderosos com computadores, redes de policia secreta
Telefones, carros de assalto, exércitos inteiros, congressos universitários, eu sei lá!
Podes estar descansado que o Teng Hsiao-ping está a tratar de ti com o Jimmy Carter
O Brezhnev está a tratar de ti com o João Paulo II
Tudo corre bem, a ver quem se vai abotoar com os 25 tostões de riqueza que tu vais produzir amanhã nas tuas oito horas
A ver quem vai ser capaz de convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário perde valor todos os dias
Ou de te convencer de que a culpa é só tua se o teu poder de compra é como o rio de S. Pedro de Moel
Que se some nas areias em plena praia
Ali a 10 metros do mar em maré cheia e nunca consegue desaguar de maneira que se possa dizer: porra, finalmente o rio desaguou!
Vão te convencer de que a culpa é tua e tu sem culpa nenhuma, tens tu a ver, tens tu a ver com isso, não é filho?
Cada um que se vá safando como puder, é mesmo assim, não é?
Tu fazes como os outros, fazes o que tens a fazer
Votas à esquerda moderada nas sindicais
Votas no centro moderado nas deputais
E votas na direita moderada nas presidenciais!
Que mais querem eles, que lhe ofereças a Europa no natal?!
Era o que faltava!
É assim mesmo, julgam que te levam de mercedes, ora toma
Para safado, safado e meio, né filho?
Nem para a frente nem para trás
E eles que tratem do resto, os gatunos, que são pagos para isso, né?
Claro! Que se lixem as alternativas, para trabalho já me chega
Entretém-te meu anjinho, entretém-te
Que eles são inteligentes, eles ajudam, eles emprestam, eles decidem por ti, decidem tudo por ti
Se hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia
Se hás-de plantar tomate para o Canada ou eucaliptos para o Japão, descansa que eles tratam disso
Se hás-de comer bacalhau só nos anos bissextos
Ou hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo!
Descansa, não penses em mais nada
Que até neste país de pelintras se acho normal
Haver mãos desempregadas
E se acha inevitável haver terras por cultivar!
Descontrai baby, come on descontrai
Afinfa-lhe o Bruce Lee
Afinfa-lhe a macrobiótica
O biorritmo, o hoscópio
Dois ou três ovniologistas
Um gigante da ilha de Páscoa
E uma Grace do Mónaco de vez em quando para dar as boas festas às criancinhas!
Piramiza filho, piramiza
Antes que os chatos fujam todos para o Egipto
Que assim é que tu te fazes um homenzinho
E até já pagas multa se não fores ao recenseamento
Pois pá, isto é um país de analfabetos, pá!
Dá-lhe no Travolta
Dá-lhe no disco-sound
Dá-lhe no pop-chula
Pop-chula pop-chula
Iehh iehh
J. Pimenta forever!
Quanto menos souberes a quantas andas melhor para ti
Não te chega para o bife?
Antes no talho do que na farmácia
Não te chega para a farmácia?
Antes na farmácia do que no tribunal
Não te chega para o tribunal?
Antes a multa do que a morte
Não te chega para o cangalheiro?
Antes para a cova do que para não sei quem que há-de vir
Cabrões de vindouros, ah?
Sempre a merda do futuro, a merda do futuro
E eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer?
Digam lá, e eu?
José Mário Branco, 37 anos
Isto é que é uma porra
Anda aqui um gajo cheio de boas intenções
A pregar aos peixinhos
A arriscar o pêlo, e depois?
É só porrada e mal viver é?
O menino é mal criado, o menino é 'pequeno burguês'
O menino pertence a uma classe sem futuro histórico
Eu sou parvo ou quê?
Quero ser feliz porra
Quero ser feliz agora
Que se foda o futuro
Que se foda o progresso
Mais vale só do que mal acompanhado
Vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa
Filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos!
Deixem-me em paz porra, deixem-me em paz e sossego
Não me emprenhem mais pelos ouvidos caralho
Não há paciência
Não há paciência
Deixem-me em paz caralho
Saiam daqui
Deixem-me sozinho, só um minuto
Vão vender jornais e governos e greves e sindicatos e polícias e generais para o raio que vos parta!
Deixem-me sozinho
Filhos da puta
Deixem só um bocadinho
Deixem-me só para sempre
Tratem da vossa vida que eu trato da minha
Pronto, já chega
Sossego porra
Silêncio porra
Deixem-me só, deixem-me só, deixem-me só
Deixem-me morrer descansado
Eu quero lá saber do Artur Agostinho e do Humberto Delgado
Eu quero lá saber do Benfica e do bispo do Porto
Eu quero se lixe o 13 de Maio e o 5 de Outubro
E o Melo Antunes e a rainha de Inglaterra e o Santiago Carrilho e a Vera Lagoa
Deixem-me só porra, rua, larguem-me
Desopila o fígado, arreda, T'arrenego Satanás, filhos da puta
Eu quero morrer sozinho ouviram?
Eu quero morrer
Eu quero que se foda o FMI
Eu quero lá saber do FMI
Eu quero que o FMI se foda
Eu quero lá saber que o FMI me foda a mim
Eu vou mas é votar no Pinheiro de Azevedo se eu tornar a ir para o hospital, pronto
Bardamerda o FMI, o FMI é só um pretexto vosso seus cabrões
O FMI não existe
O FMI nunca aterrou na Portela coisa nenhuma
O FMI é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio
Rua, desandem daqui para fora
A culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa
Oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe
Mãe, eu quero ficar sozinho
Mãe, não quero pensar mais
Mãe, eu quero morrer mãe
Eu quero desnascer
Ir-me embora
Sem sequer ter que me ir embora
Mãe, por favor
Tudo menos a casa em vez de mim
Outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar
E de me encontrar fugindo
De quê mãe?
Diz, são coisas que se me perguntem?
Não pode haver razão para tanto sofrimento
E se inventássemos o mar de volta
E se inventássemos partir, para regressar
A partir e aí nessa viagem
Ressuscitar da morte às arrecuas que me deste
Partida para ganhar
Partida de acordar
Abrir os olhos
Numa ânsia colectiva de tudo fecundar
Terra, mar, mãe
Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto
Lembrar nota a nota o canto das sereias
Lembrar o depois do adeus
E o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal
Lembrar cada lágrima
Cada abraço
Cada morte
Cada traição
Partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar
Assim mesmo
Como entrevi um dia
A chorar de alegria
De esperança precoce e intranquila
O azul dos operários da Lisnave a desfilar
Gritando ódio apenas ao vazio
Exército de amor e capacetes
Assim mesmo na Praça de Londres o soldado lhes falou
Olá camaradas, somos trabalhadores
Eles não conseguiram fazer-nos esquecer
Aqui está a minha arma para vos servir
Assim mesmo, por detrás das colinas onde o verde está à espera se levantam antiquíssimos rumores
As festas e os suores
Os bombos de Lavacolhos
Assim mesmo senti um dia
A chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila
O bater inexorável dos corações produtores, os tambores
De quem é o carvalhal?
É nosso!
Assim te quero cantar
Mar antigo a que regresso
Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei
Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grandola Vila Morena
Diz lá, valeu a pena a travessia?
Valeu pois
Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe
No fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados
De mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco
Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos
O meu canto e a palavra
O meu sonho é a luz que vem do fim do mundo
Dos vossos antepassados que ainda não nasceram
A minha arte é estar aqui convosco
E ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez
Sou português, pequeno burguês de origem
Filho de professores primários
Aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes
Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto
Muito mais vivo que morto
Contai com isto de mim para cantar e para o resto
Ser solidário assim, para além da vida
Por dentro da distância percorrida
Fazer de cada perda uma raiz
E improvavelmente ser feliz
De como aqui chegar não é misterio contar
O que já sabe quem souber
O estrume em que germina a ilusão
Fecundará, por certo, esta canção
Ser solidário sim, por sobre a morte
Que depois dela só o tempo é forte
E a morte nunca o tempo arredime
Mas sim, o amor dos homens que se exprime
De como aqui chegar não vale a pena
Já que a moral da história é tão pequena
Que nunca por vingança eu vos daria
No ventre das canções, sabedoria

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Descobrir o Padrão

Obra com muito a dizer. Leopoldo de Almeida e as Caldas da Rainha.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Visita de estudo ao DinoParque - Lourinhã

Proporcionar estas visitas a todos os alunos do 7º ano de uma escola é, antes de qualquer outra consideração, um privilégio da profissão.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Aniversário

Todos os anos há um dia que. E eles sempre descobrem formas de me desprevenir. Sempre.

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

sexta-feira, 27 de abril de 2018

O civismo funciona - uma intervenção escolar de segurança rodoviária"

O projecto didáctico pretende contribuir para a resolução de um problema que afecta a qualidade de vida dos condutores automobilísticos que chegam às imediações da escola para deixar ou apanhar os seus educandos e se deparam com um contexto de visível desrespeito pelas regras de trânsito. Evidência-se que este notório desrespeito atrasa e dificulta muito todo o processo. Evidentemente, o foco pedagógico da iniciativa é o de sensibilizar os alunos do 9º ano para esta questão e fornecer-lhes a preparação necessária para, eles mesmos, se converterem em promotores de uma correcta e cívica utilização dos espaços públicos. Neste sentido, depois de um processo colectivo de decisão, o projecto intitulou-se "O civismo funciona - uma intervenção escolar de segurança rodoviária".

O trabalho iniciou-se em Janeiro de 2018, momento em que foram feitas a planificação do trabalho e um cronograma preliminar. Foram constituídos grupos de alunos e foi feita uma distribuição de tarefas a realizar por cada um desses grupos. Procedeu-se a uma leitura do código de estrada, com a qual se conseguiu, colectivamente, identificar os problemas que mais afectam ali a fluidez rodoviária, os horários da incidência maior destas anomalias e recenseou-se as soluções possíveis para evitar estas ocorrências.

Procedeu-se, então, ao estudo de conceito visual e social da intervenção. Optou-se pela exibição pública pelos alunos de cartazes com slogans que suscitem nos condutores uma autoreflexão sobre o seu comportamento rodoviário. Foi criada uma plataforma em padlet para que durante duas semanas os alunos lançassem frases passíveis de figurar nos cartazes. Quando já havia slogans em número apropriado, fez-se uma aula de filtragem colectiva desses contributos individuais. Foi muito debatido o tom (mais ou menos provocatório) dos slogans. Na circunstância foi dado um feedback individual a cada contributo.

Determinado o formato, o tom e o conceito fez-se um ensaio piloto de legibilidade dos cartazes a distância, havendo lugar a bastantes correcções dos protótipos. Distribuição de alunos e localização dos cartazes foram igualmente variáveis muito debatidas. Decidiu-se também criar um sistema de gratificação simbólica para os bons condutores (um post it autocolante com o símbolo "like" do facebook a ser colocado no vidro dos veículos).

Procedeu-se à execução dos cartazes e optou-se também por criar um momento visual em que o conjunto dos cartazes forme o título da iniciativa, uma letra por cartaz.

Em articulação com a coordenação da escola que se mostrou muito receptiva a esta iniciativa e a escola segura, ficou acordado que ela teria lugar no dia 27 de Abril de 2018 às 8:20 e 17:30 para, deste modo, ir ao encontro dos encarregados de educação dos alunos de todos os ciclos.


























segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

O padlet como instrumento de consolidação de conteúdos

Cada aluno usa o seu telemóvel para colocar uma nota escrita com uma característica do fascismo italiano (numa coluna) e nazismo alemão (noutra coluna).

No meio, a discussão, edição e a arrumação.

No fim a partilha dos resultados por mail ou rede social.

Aprender é trazer para dentro.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Aula sobre nutrição

Uma convidada especial. A nutricionista Joana Hipólito aclarando de forma limpinha como colocar a inteligência ao serviço do gesto comum de comer.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Gil Vicente na barca do moodle

Consolidação de conhecimentos sobre a obra de Gil Vicente.

sexta-feira, 2 de junho de 2017

És especial.

Impressionante, a dificuldade que temos em dar ou receber elogios.

Um trabalho da psicóloga Mafalda Alexandre.